quinta-feira, novembro 25, 2004

Então... Por cá?

Hoje decidi falar-vos dum movimento que dura já desdde o início da linguagem falada: A Pergunta Idiota.
Estava eu, uma destas noites, a contribuir seriamente para uma cirrose na minha vida adulta, numa conhecida discoteca lisboeta (como ninguém me paga, não faço publicidade) quando, numa necessidade humana de quem ingere vários litros de cerveja e bebidas brancas, tive de ir "trocar a água às azeitonas. Estando eu no meio do referido acto, eis que aparece um conhecido meu que se coloca no urinol ao lado e me lança a pergunta: "Então pá...por cá?...O que é que tás a fazer?". Eu, com mais alcoól que sangue na corrente sanguínea, não tive a capacidade de responder à altura. Mas vejamos, estava em de frente para aquele aplique de cerâmica mítico, com a breguilha aberta, com uma mão entre as pernas e outra a segurar um copo... estava claramente a praticar pesca desportiva.
Estas perguntas, retóricas no seu sentido, mas que todos usam como modo de iniciar uma conversa, são talvez a pior invenção em termos de comunicação, rivalizando mesmo com os rodapés de sms dos canais de TV e certos livros que vendem mais que papos-secos, que não vou nomear para não gerar polémica neste cantinho.
As variações destas perguntas são tantas que é impossível nomeá-las a todas, pelo que me vou apenas referir a alguns casos meus conhecidos.
Um conhecido meu contou-me que, estando ele à frente da banca de pipocas dos cinemas do El Corte Inglés, com o seu balde de pipocas tamanho jumbo e a sua Cola tamanho gigante, caminhava em direcção da sala de cinema onde iria assistir a um qualquer filme quando foi interceptado por um amigo seu que, antes de mais nada lhe disse "O que é que andas aqui a fazer?". Estupidificado pela pergunta do referido indivíduo e, não sendo ele um sujeito confrontativo, respondeu a verdade com ar de desprezo. Eu cá diria que me estava a preparar para me fazer à pista para o aquecimento dos 3000 metros obstáculos.
Voltando à minha experiência, aconteceu-me certo dia, depois das férias de Verão, encontrar um amigo que não via há algum tempo e que intercepta com a mítica pergunta: "Então... já voltaste?". Não, eu não havia voltado, estava ainda no Algarve e aquele vulto que surgia perto dele não era mais do que um produto da sua imaginação, ou até mesmo um holograma...não passava de uma ilusão.
A minha demanda e conselho de hoje não é que tentem acabar com este flagelo, já que isso é impossível. Peço-vos, isso sim, que comecem já hoje a pensar em respostas criativas, agressivas e altamente sarcásticas, numa tentativa de ensinar a esta gente, a pensar bem antes de perguntar, para além de conferir uma conotação cómica e alegre a qualquer início de conversa.
Saudações Simeanescas.