sábado, agosto 07, 2004

Misses

Numa das minhas noites de insónia televisiva, decidi tentar assistir a um programa inteiro da Miss Universo, e reparei nalguns detalhes que fazem deste tipo de concursos acontecimentos peculiares.
A minha primeira questão prende-se com a variedade de concursos, em especial com a distinnção entre Miss Mundo e Miss Universo. Haverá mais participantes na versão universo? Teremos nós alienígenas no desfile?
Outro dos factos que me fascina é a similaridade destes desfiles com concursos de cavalos e vacas, já que basicamente, o seu objetivo e andar em linha recta, equilibrando-se sobre sapatos com saltos de 1 metro, dar uma volta e regressar à posição original, sem nunca desfazer o magnífico painel de mármore branco que transportam na boca. Outro facto a reparar é a uniformização, já que todas as candidatas têm a mesma exacta altura, um penteado semelhante, apenas sendo distinguidas pelo tom da pele, faixa que transportam ao ombro, qual coleira de cão e pelo decote do fato de banho e vestido de noite.
Outra das coisas que me fascina são os ideais e ocupação de todas elas. Variando entre estudante de Psicologia e de comunicação social. Todas elas gostam muito de crianças, ajudam os pobres nos tempos livres, e prometem lutar contra a fome, pobreza e fomentar a paz mundial... são todas boas pessoas...
Temos também uma aptidão específica, requisito obrigatório a qualquer aspirante a candidata: o sorriso Lili Caneças. Este é o sorriso que observamos quando temos os apresentadores (usualmente com um QI ainda inferior às candidatas) a chamarem uma a uma as 20 finalistas, de entre 80 e tal exemplares. As sortudas que não passam à fase seguinte, talvez por imposição do seu contrato, exibem um sorriso de orelha a orelha, aparentemente suportado por arames invisíveis, enquanto os seus olhos raiam de sangue e as suas mãos batem como se estivesse a quebrar cascas de noz, ao ver que os anos de dietas à base de relva e algodão, as semanas passadas nos ginásios, salões de beleza, ecolas primárias a desenvolver o seu vocabulário e na mesa de operações do cirurgião plástico estão a ir por água abaixo. Eu pessoalmente, gosto de ver a raiva e o ódio a acumular-se naqueles corpinhos perfeitos e apenas fico triste porque nunca se realiza o meu desejo de algum dia, uma daquelas barbies sacar da sua Kalashnikov rosa-choque e tranformar todas as outras barbies em coadores de legumes.
Assim, graças a este verdadeiro exército de clones que todos os anos desce até uma terra do gabarito do Equador ou Madagáscar, para nos brindar com um churrilho de dejá-vu's, fico satisfeito com uma certeza: qualquer que seja a escolhida, será sempre igual a todas as anteriores e, nunca me deixa hesitante, já que é sempre a escolha correcta.
Estas misses...