sábado, julho 03, 2004

Recuerdos automobilísticos

Hoje fui buscar o meu carro à revisão. Chego à oficina, sou conduzido para os serviços administrativos, pago para cima de 200 euros para arranjar filtros que desconheço e reabastecer o meu carro de fluídos suficientes para encher uma piscina olímpica.
Contente por estar prestes a guiar o meu bólide de novo, ligo o motor e arranco dali para fora. Eis senão quendo, no meio da autoestrada, olho para o lado e vejo, aos pés do lugar do pendura, um pequeno saco preto. Pensando para comigo que aquilo seria certamente um bónus, abri como se de uma prenda de Natal se tratasse, aquele grande saco, apenas para encontrar dois filtros sujos e quatro pastilhas de travões gastas. Percebi então que me tinham dado aquilo que haviam retirado do meu carro...Porquê??
Será que existem pessoas que se apegam a peças tão específicas de um carro que fazem questão de levar consigo pedaços de metal e plástico totalmente inúteis, como uma recordação dos bons tempos passados?
Esta situação é a mesma que alguém guardar as beatas de cigarros fumados ou esferográficas sem tinta. Será que os mecânicos, vendo-me a chegar, me acharam com cara de sucateiro e decidiram assim oferecer-me um saco com 10 kilos de lixo?
Se eles que são mecânicos profissionais, que passam maior parte do dia com fatos-macaco sujos de óleo e com a cabeça dentro do capot ou deibaixo de um carro, não têem qualquer utilidade para aquelas peças, o que é que esperam que eu, jovem rapaz citadino, cujas poucas coisas que sei operar com o capot aberto é usar aquela vareta para que o dito não se feche, faça com elas? Será que essa gente pertence a alguma seita secreta, que guarda velhas peças de carros em altares, para depois desempenharem rituais homo-eróticos (reparem que não há mulheres mecânicas). Será que, ao receber aquele saco e sair da oficina com ele, aceitei pertencer a tal situação?
Estas atitudes estranhas levam-me sempre a este tipo de pensamentos, que me irão garantir noites em claro durante alguns dias, com medo que algum latagão coberto de fuligem me entre pelo quarto a dentro munido com uma chave inglesa e um macaco pneumático e me diga "vamos lá dar uma olhada a esses pistons..."
Pronto lá vai ter a luz de ficar acesa toda a noite...