terça-feira, junho 22, 2004

Pensos

Hoje confrontei-me, num semáforo, com um movimento que tenho visto crescer nos últimos anos: as vendas de semáforo.
Temos os mecenas, fomentadores da cultura, que nos tentam impingir a revista CAIS ou o mítico almanaque Borda D'Água.
Algo que tenho visto muito são os beneméritos, especialmente os bombeiros e membros da Cruz Vermelha que se equipam com os seus casacos corta fogo e apropriados para uma expedição antártica, apenas para se colocarem no meio de alcatrão aquecido até uns confortáveis 50º para, ensopados em suor e com o seu pitoresco odor axilar, me tentarem vender senhas para juntarem fundos para comprar ambulâncias e máquinas para o quartel (traduz-se estas "máquinas" para mesas de snooker, matrecos e máquinas de bebidas)
Por outro lado temos os higienistas, aqueles rapazes muito prestáveis, que fazem questão de, por mais limpo que esteja o pára-brisas, despejarem um balde de um líquido cinzento e nauzeabundo no nosso veículo, antes de pegarem numa escova que aparenta ter passado por duas grandes guerras, para barrarem toda a mistura que, após secar, dá uma agradável sensação de conduzir com nevoeiro.
Temos também o estrangeiro, que passa pelos nosso carros, atirando lá para dentro uma caneta, isqueiro ou penduricalho inútil, com uma nota do género "Sou de Roménia e tenho 8 filho para alimentar. Não tenho emprego. Por favor ajude minha família".
Mas os melhores são os vendedores paramédicos. Falo daqueles que surgem do nada e esfregam à nossa frente paletes de pensos rápidos, com marcas como "Ransaplast", ficando claramente insultados quando as pessoas não aceitam. Eu, pelo meu lado tenho razão já que, não estou naquele momento com o braço dilacerado e a esvair-me em sangue, procurando freneticamente algo para estancar a hemorragia. Fora este caso, apenas compro pensos para ter em casa, em caso dalgum acidente e, nesse caso, não escolho colocar na minha ferida, altamente exposta ao ar e em risco de infeção, um produto vindo das mão de um indivíduo que, por debaixo da fuligem que lhe cobre a cara, me parece ser portador de pelos menos 4 doenças potencialmente fatais.
Mas, no meio de tudo isto, o que mais me chateia è a incapacidade de aceitarem um não e continuarem a insistir, algo que, ao fim de um dia cansativo e altamente quente, me faz ponderar seriamente os artigos do código da estrada que me proibem de atropelar uma pessoa.
Se algum destes senhores lê este blog... be afraid....be VERY afraid.