domingo, junho 13, 2004

Matemática - Camões Style

Professor Cabrinha digo, verdadeiro
Açoute de Católicos estudantes
Como já o fero Huno o foi primeiro
Pera tantos outros tratantes.
Outro também, famoso engenheiro,
As práticas dá do cadeirão,
Falta a falta, qual muro de pedreiro
Se vão dando passos pera a exclusão.

Estavam pelas paredes, temerosos
As mãos de medo quase frias
Rezando, relaxados e estudiosos
Prometendo jejuns e romarias
Já chegam as esquadras belicosas
Defronte das immigas companhias
E todos grande dúvida concebem.

Respondem as vozes mensageiras
Pífaros sibilantes e atambores;
Vigilantes apontam as cadeiras
Que só de vistas dão dores
Era a época de matemática
Esforço porventura último à disciplina
Frequência decisiva e dramática
Para quem com chumbos não atina.

Deu sinal a trombeta da semana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso
Ouviu o Douro e a terra Transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E os alunos que o som terribil escuitaram
Ao coração os neurónios apertaram.

Quantos rostos ali se vê sem cor
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que, nos perigos grandes, o temor
É maior muitas vezes que o perigo.
E, se o não é, parece-o, que o furor
De passar e vencer o duro immigo
Faz não sentir que é perda grande e rara
Do curso perdido, da vida cara.

Começa-se a travar a incerta guerra:
Escrevem canetas por toda a sala
Uns leva a procura de boa nota
Outros a esperança de somente ultrapassá-la
Logo o grande Cabrinha, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
"Mais de metade aqui encalham" lança o repto
"Não aceita o facto, sai directo!"

Já pelo espesso ar os silenciosos
Pensamentos, derivadas e outras contas voam
Debaxo dos pés duros dos nervosos
Estudantes treme a terra os vales soam.
Espedaçam-se limites e derivadas, os fervorosos
Alunos fazem contas de subtrair
Decrescem precedências a matemática
Só por causa da equação quadrática.

Aqui a fera batalha se encruece
Com mortes, gritos, choro, narinas assoadas
A multidão de gente que perece
Tem as flores da própria cor mudadas.
Já as costas dão à resolução que aparece
Eles mudos, elas transtornadas
Rende-se um ou outro gato pingado
Movem-se multidões por um macaco revoltado.

A sala vão deixando ao vencedor,
Contentes de lhe não deixar a vida
Seguem-se os que ficaram, e o temor
Lhes dá, não pés, mas asas à fugida.
Encobrem no profundo peito a dor
Da exclusão, das horas de estudo dispendidas
Da mágoa, da desonra e triste nojo
Por a MATEMÁTICA triunfar de seu despojo.