domingo, abril 25, 2004

Ah, os tempos de Abril...

"Lisboa, 11 de Março de 1975

José M. D. Barroso, o jovem que foi notícia na semana passada por ter liderado a brigada que procedeu à apropriação pelo povo do mobiliário da faculdade de Direito de Lisboa, foi ontem acusado de "desvio revolucionário grave" pelo comité central do MRPP. Em causa está o facto de o jovem Barroso ter oferecido à namorada um cadeirão de couro Chesterfield retirado do gabinete de Marcelo Rebelo de Sousa, afilhado do ex-presidente do Conselho de Ministros de Marcelo Caetano e ideólogo do semanário "Expresso", onde, sob a capa da democracia, se abrigam alguns colaboradores do regime deposto pelos bravos capitães de Abril.
Ouvido em Tribunal Revolucionário, o suspeito disse que a acusação não passa de uma "cabala cripto-fascista", negando qualquer favorecimento à sua companheira, que está referenciada como pertencendo a uma das famílias que exploraram o campesinato das planícies alentejanas. O jovem garantiu estar a ser a vítima de uma "maquinação burguesa" urdida pelo fascista Marcelo, que não se conforma por ter visto devolvido ao povo o sumptuoso cadeirão, cujo preço estimado de custo chega para pagar 3 meses de salários em atraso aos trabalhadores da Sorefame, que prosseguem a sua luta revolucionária pelo controle dos meios de produção. "Foi ele quem andou a distibuir fotocópias em stencil pela calada da noite e foi ele quem pichou os muros da faculdade com a frase: 'Eu sei do que falo: o cadeirão do Marcelo não é para cus sem calo'", defendeu-se o militante do MRPP.
A defesa do jovem Barroso foi, no entanto, completamente posta de rastos pela exibição de fotografias onde a namorada do suspeito aparece sentada no cadeirão em poses próprias de uma pequeno-burguesa endinheirada. Mais grave ainda foi o facto de o camarada Arnaldo de Matos ter reconhecido nas fotografias o "reaça" Pedro Lopes, líder do MID (Movimento Independente de Direita). Testemunhas afiançaram que Durão e Lopes forma vistos juntos numa tourada no Campo Pequeno, com a agravante de Durão estar de gravata. Durão negou saber fazer nós de gravata, mas depois de pressionado pelo Grande Timoneiro acabaou por fazer um nó de Windsor perfeito numa gravata que foi emprestada por um misterioso homem de pêra. Entusiasmado, o jovem preparava-se para cometer o sacrilégio de ensinar a fazer o reaccionário nó americano, mas foi defenestrado pelos comandos revolucionários do MRPP. "

Texto da edição do Público de 23 de Abril

1 Comments:

At 3/17/2008 6:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"...afilhado do ex-presidente do Conselho de Ministros de Marcelo Caetano"
1ºSe querias dizer que Marcelo Caetano era padrinho de Marcelo Rebelo de Sousa deverias ter escrito desta forma: ...afilhado do ex-presidente do Conselho de Ministros Marcelo Caetano" caía o "de"
2º Marcelo Caetano não era padrinho de Marcelo Rebelo de Sousa. Quando o Pai de Marcelo R.Sousa sondou Marcelo Caetano sobre essa hipótese, Marcelo C. rejeitou e explicou que um padrinho deveria ser alguém mais novo que o Pai para o "substituir" quando faltasse. Claro que isto não te interessa nada..

 

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