segunda-feira, fevereiro 09, 2004

O declínio da televisão portuguesa

Comecei a pensar, no outro dia, no estado actual da televisão privada em Portugal, em particular na SIC e TVI.
Observei então que ambas tiveram um percurso semelhante, com altos e baixos em termos de qualidade, inversamente proporcionais às audiências. Ambas tiveram o seu programa "popular" (vulgo bimbo), com a SIC e o seu Big Show e o Big Brother da TVI. Estes eram, no entanto, coisas suportáveis, já que estavam confinados a horas em que existem outras alternativas de entretenimento.
O pior chegou recentemente, com ambas as estações a cair a pique em direcção ao lodo televisivo. Não irei falar do jornalismo de "faca e alguidar", mas dos programas. A meu ver, esta decadência foi catalisada por dois elementos, um de cada estação. Começarei então pela TVI, com a sua Sofia Alves cuja profundidade dramática lhe permite interpretar, com a mesma expressão, duas gémeas separadas à nascença, a filha de um grande proprietário colonial e uma cega que deixou de ser cega mas acabou por voltar a ser cega. Esta senhora consegue representar magistralmente um enorme leque de personagens, desde que estas sejam todas iguais, mas tem um qualquer poder hipnótico ou segrega uma qualquer hormona que, passando pelos cabos e antenas lhe garante a aprovação da comunidade da terceira idade portuguesa. Esta senhora é um enviado de Belzebu, cuja missão é ganhar a compaixão da população artrítica, até ao momento em que, numa qualquer novela começa a enviar mensagens subliminares para todos os lares portugueses, criando um exército demoníaco, não de mortos-vivos, mas dos quase-mortos que se revoltarão e semearão o pânico e o terror com os seus andarilhos e fraldas da incontinência.
Na SIC, temos o inimigo estrangeiro, Rex - O cão polícia. Esta série que começou como um inocente programa da manhã, foi subindo, camufladamente na grelha da programação, até chegar ao topo, o Prime-time de Sábado. Gostava, antes de continuar, de vos deixar com um pensamento: Rex está para o Air Bud (aquele adorável canino que joga futebol, futebol americano, basket, ténis, tiro ao alvo e lançamento do dardo), assim como o exército português está para os escuteiros; O Rex é profissional, mas nunca faz nada de jeito. Eu gostava de lançar uma questão aqui e gostava que me enviassem as vossas opiniões... Quem é que, na posse total de todas as suas capacidades físicas e mentais, se senta voluntariamente à frente de um televisor e escolhe passar uma hora a ver um pastor alemão a resolver crimes, num sábado à noite. Eu gostava de conhecer esta gente, saber o que lhes vai na mente e o porquê de viverem tão atormentados.