sábado, fevereiro 28, 2004

A história da cadeira idiota

Atravessou-se-me hoje pelas sinapses um pensamento, no mínimo, inquietante. Surgiu-me tal pertinente interrogação no decorrer de uma aula que integra o grupo das cadeiras que vou, de seguida, descrever: Porque será que, na universidade, onde é suposto um indivíduo ser preaparado para uma futura vida profissional, existem cadeiras "idiotas"? Decerto se estará a perguntar o leitor o que entendo eu por "idiota". Passo a explicar: trata-se de uma cadeira que não possui o mais ínfimo dos interesses para o curso em que estamos, servindo única e somente para ocupar horas do dia, que já de si são em número reduzido na vida de um estudante.
A partir do exposto, constata-se facilmente que, na minha opinião, isto não é mais que um profundo e infeliz desperdício.
No meu caso, estando numa universidade privada (não façam a associação universidade privada - possuidor de um cérebro de capacidades reduzidas.... estariam tremendamente enganados...), esta situação adquire contornos ainda mais dramáticos. Efectivamente, tenho ou vou ter cadeiras que constituem autênticos insultos à inteligência. Não são poucas as vezes que me pergunto o que foi que pensaram os responsáveis da minha faculdade quando determinaram que "Introdução às Ciências Sociais" (não se deixe o leitor desinformado enganar pelo nome pomposo e motivador desta disciplina.. trata-se, na verdade, de sociologia...) e "Cristianismo e Cultura" (esta é mesmo o que parece) seriam cadeiras que fariam parte do curso de Gestão.
Só mesmo um estado de embriaguez tangente ao coma alcoólico poderá constituir uma explicação minimamente plausível para tão traumatizante realidade.
Há quem diga que os estudantes saíam da universidade preparados para a profissão que iriam desempenhar mas que eram possuidores de uma cultura equivalente à visão de uma toupeira e, como tal, justificam-se estas cadeiras.
Impõe-se a pergunta: Que parte de "as pessoas não aprendem o que têm de estudar" não terão percebido os docentes?
Não é senão óbvio que um aluno tem muito menos, ou mesmo nenhum, prazer em aprender algo sob imposição (e sob pena de não acabar o curso no número de anos que este tem..mas isso já será um questão para abordar em futura oportunidade). Se o objectivo é aumentar a cultura geral da população então há que promovê-la de outro modo.
A banalidade que caracteriza estas cadeiras é constrangedora! E como "intelligence is the ability to forget the trivial" não vale a pena fazer as pessoas perder tempo desgastando sinapses e utilizando energias cerebrais melhor utilizadas noutras actividades.
Sejamos sérios. Além do mais, há quem não tenha nascido para ser culto. Não vamos descriminar esses pobres de espirito. Aqueles que desejam efectivamente enriquecer-se culturalmente não precisam de motivação, a coisa surge naturalmente.
Uma mudança de sistema é precisa.
Por um Portugal futuro mais culto que o país povoado de idiotas com mania de conhecedores que afirmam gostar de "ler Picasso" a que assistimos hoje.