sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Adereços para automóveis

Sim, é verdade, vou hoje falarvos dessa praga que infesta o parque automóvel português, os adereços, mais conhecidos por "penduricalhos" ou "pichavelhos".
Gostaria de começar pelos ambientadores, que são tão variados na forma que podem dividir-se em duas categorias fundamentais: os de pendurar e os de enfiar na grelha do ar-condicionado. Estes últimos não serão visados já que pouco influenciam o aspecto geral do carro e têm alguma utilidade. Os mais interessantes são aqueles que, mascarados de pinheiro multi-color com uma qualquer citação em alemão (as pessoas pensam que, caso a palavra seja estrangeira, o cheiro será mais freco) que se encontram pendurados do espelho retrovisor. Agora expliquem-me porquêno espelho? Será porque apanha mais vento (o que é verdade para quem conduz um buggy)? Será porque o contacto com o sol activa mais o cheiro intenso a colónia barata? Ou será uma questão de orgulho de ter aquele ambientador? Cabe a cada um de vós tirar as suas conclusões.
Outro dos adereços que fascinam são aqueles bonecos que, colados no tablier ou chapeleira, insistem em concordar com tudo o que dizemos, com o seu constante abanar de cabeça. Estes, a meu ver, são instrumentos de estímulo de confiança, já que aceitam tudo o que fazemos sem hesitar.
Passamos depois para as míticas cortinas de vidro traseiro, nas suas 2 variantes principais, igualmente altamente inestéticas, com a estampa do leão cob fundo preto e da águia sob a bandeira americana. Estes, para além de apenas serem úteis, na maioria dos carros, apenas quando se viaja de costas para uma nascer ou pôr-do-sol, criam um certo véu de mistério para o condutor que viaja atrás, já que não é possível ver quem conduz o que, normalmente, causa algum nervosimo.
As bandeiras associam-se noutros casos aos cachecóis como "cobertores de superfícies". Falo-vos da chapeleira, com o cachecol da selecção e do país, ou do clube de eleição e dos míticos encostos de cabeça que, graças à bandana formada pela bandeira americana são poupados do enorme problemas que é o suor em bica que escorre da nuca.
Temos depois duas variantes gerais: os taxistas e os camionistas.
Os taxistas, para além de poderem conjugar os adereços acima referidos, têm alguns extras. como a mítica protecção plástica azul, que lhes permite fumar de janela aberta mesmo quando chove, as placas com o seu nome e morada, ladeados por imagens de virgens ou santos, o mítico auto-colante de proibido fumar, mesmo que o taxista efectue todo o serviço com o SG Ventil no canto da boca, para já não falar da delícia dos mais novos, aquelas mantas de contas de madeira que cobrem o banco do condutor, que são sempre um meior do passageiro aliviar o seu stress brincando infantilmente com elas (eu pessoalmente não resisto).
Temos agora o apogeu desta doutrina, os camionistas que, dotado com o maior habitáculo do mundo automóvel, transformam-no numa espécie de feria popular, com a matrícula a dizer Cunha ou Antunes no tablier, os galhardetes todos alinhados sobre o condutor, a bandeira nacional ou do benfica atrás deste, que se encontra a cobrir posters de senhoras em trajes bastante diminutos e poses indecorosas.
Peço-vos que, sempre que presenciem algo deste género se aproximentem da viatura e soltem uma profundo e sentido "PORQUÊ?!?", numa tentativa global de consciencialização de todos os pobres condutores que cairam nas mãos desta seita underground e que agora não percebem que está na altura de a abandonar.