quarta-feira, janeiro 21, 2004

Sapos

Para iniciar esta nova era de Simeanismo, lembrei-me de falar dos indivíduos que, nos últimos anos ganharam um lugar especial naquele cantinho do coração que todos os portugueses guardam para o ódio visceral. Estes senhores conseguiram destronar os criminosos públicos (aqueles que aparecem mais vezes na televisão que o papa) e até a grande revelação em termos de ranking de ódio da última década: o árbitro de futebol. Saberão concerteza quem são estes indivíduos...os inspectores da EMEL.
Estes seres atormentados percorrem as ruas de Lisboa, ofegando cobertos pelo seu belo manto verde e boné a condizer, nunca se afastando mais de 15 cms do seu cadernos de tiquês (termo técnico para multa). Deslocando-se habitualmente sozinhos, estes seres sentem um estranho orgulho em introduzir os ditos tiquês entre a escova limpa-pára-brisas e o pára-brisas sempre que o condutor da viatura aparqueada comete o terrível crime de não planear toda a sua rotina diária em função dos trocos na sua carteira. Obviamente psicologicamente perturbados, estas criaturas começaram a sentir algumas dificuldades quando a máfia dos condutores se começou a revoltar e a dar áqueles pequenos papelinhos a importância devida - nenhuma.
Eis que a EMEL retomou a ofensiva. Passou a deslocar brigadas de elite dos seus sapos em veículos ultra-modernos (carrinhas peugeot de 1979 com plástico preto a tapar os vidros) munidos de uma nova arma: O dispositivo bloqueador da rota motora.
Assim, sempre que um dos seus batedores observava o inimigo, pegava no seu walkie-talkie e fazia soar o alerta: "Aqui Antunes, queria reportar um veículo, de placa de matrícula Óscar-Tango-Cinco-Cinco-Seis-Zero, indevidamente parqueado sobre o passeio pedonal no Saldanha. Peço a Força Beta". Em segundos o bloqueador é colocado, enquanto os agentes se divertema fazer doceraçoes de Natal com fita amarela e preta e autocolantes no automóvel. Depois, talvez num acto de vingança desaparecem, sendo necessário telefonar para um número especial e esperar tempo suficiente para demolhar um bacalhau inteiro até que apareça o dito para reclamar o seu espólio: 30 euros de aluguer de equipamento (sim é mesmo isso que lhe chamam) e outros 30 por danos morais ao passeio.
Estes indivíduos estão lentamente a começar a controlar a cidade e, se não forem tomadas precauções podem mesmo chegar ao governo deste país, algo que nos mergulharia num inferno tiquês e parquímetros (que, já agora, estão sempre avariados quando realmente decidimos pagar).
O meu apelo é este: Sempre que virem um destes seres, com um boné verde, com um casaco também verde mas mais debotado e dois números abaixo do devido e umas calças tão justas ao corpo que parece que, caso ele liberte uma flatulência respeitável rebentam, abalroem-no pois, embora não pareça resultar, se todos os condutores abalroarem um sapo por dia, dentro de algumas semanas podemos estar finalmente livres desta praga.